Agronegócio e Geopolítica: Como a Rússia Molda a Posição Brasileira na Guerra

A lição da Alemanha: o Brasil pode se libertar da dependência russa sem enfrentar um colapso econômico?

O Embaixador da Ucrânia no Brasil, Andriy Melnyk, abordou em uma recente entrevista a complexa relação entre a Rússia e o Brasil, destacando como o fornecimento de fertilizantes minerais e diesel russo influenciam a posição política brasileira em relação ao conflito Rússia-Ucrânia.

Melnyk explicou que, de acordo com pesquisas sociológicas realizadas junto a parlamentares brasileiros, mais de 50% deles discordam da postura do governo brasileiro em relação à guerra. No entanto, muitos evitam tomar uma posição pública clara devido à dependência do Brasil dos recursos russos, especialmente no setor agrícola.

Essa dependência lembra, segundo Melnyk, a situação da Alemanha há alguns anos, quando o país se sentia incapaz de desafiar a Rússia devido à sua dependência de gás e petróleo russos. Ele ressaltou que, apesar do medo de um colapso econômico, a Alemanha conseguiu se ajustar, e um "apocalipse" econômico nunca ocorreu, sugerindo que o Brasil poderia seguir um caminho semelhante.

No entanto, a situação no Brasil é um pouco mais complexa. O embaixador destacou que o agronegócio, um dos pilares da economia brasileira, depende fortemente dos fertilizantes russos, e o aumento nas compras de diesel russo barato, desde 2022, é visto como uma forma de manter os preços controlados no setor produtivo. Essa dependência econômica gera um dilema político, onde muitos parlamentares, apesar de apoiar a Ucrânia em conversas privadas, evitam tomar uma posição pública sobre a guerra, seja por interesses econômicos ou por não quererem admitir a gravidade da agressão russa.

Melnyk concluiu sua análise afirmando que o Brasil, priorizando sua prosperidade econômica, reluta em comprometer sua relação com a Rússia, visto que esta é crucial para garantir a estabilidade de setores essenciais, como a agricultura. Isso cria uma divisão na elite política, onde muitos preferem não se posicionar abertamente sobre a guerra, a fim de evitar prejuízos aos interesses nacionais.